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TDAH, entenda!

10 PASSOS PARA LEIGOS ENTENDEREM O TDAH DE UMA VEZ POR TODAS 1. Apesar da nomenclatura, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) não é sinônimo de falta de atenção. Trata-se, melhor dizendo, de um déficit de INTENÇÃO. Como bem coloca o dr. Russell Barkley, pesquisador mundialmente reconhecido no assunto, "TDAH não é um transtorno de atenção, mas sim uma cegueira para o futuro". E o que ele quer dizer que isso? 2. Significa que a pessoa que tem TDAH não consegue se motivar quando as recompensas por seu esforço estão distantes do presente, em um futuro relativamente distante. Significa que a pessoa tem a capacidade de prestar atenção, mas só quando a tarefa a estimula muito e a recompensa é instantânea. É por isso que crianças com o transtorno conseguem passar horas no videogame, mas não conseguem ficar meia hora estudando ou fazendo o "dever de casa". É por esse mesmo motivo que adultos saem dos empregos quando caem na rotina (mesmo precisando dele) ou deixam para fazer aquela importante planilha literalmente na última hora, mesmo correndo o risco de não terminarem a tempo (e de queimarem o filme com o chefe), mas podem passar horas vendo filmes ou consertando um liquidificador quebrado. Por isso o termo "intenção" é mais adequado: a atenção está lá, mas não é acionada sempre que a pessoa precisa. Ou você acha que alguém ia querer reprovar na escola, levar bronca dos pais, do chefe ou perder um emprego importante? 3. "Ah, isso é conversa fiada pra defender gente preguiçosa. TDAH nem existe". Você já deve ter ouvido alguém dizer isso, talvez até mesmo um médico (muito desinformado). TDAH existe e é um fato: um estudo realizado em 2015 por dezenas de pesquisadores PhDs em neuropsiquiatria* comprova isso. Através de métodos de varredura do cérebro, os cientistas evidenciaram que o cérebro de crianças com TDAH tem volume menor em 5 regiões e que o volume intracraniano também é menor. 4. Mas porque a atenção de quem tem TDAH só funciona através do estímulo? Segundo o nosso caro Dr. Barkley, o motivo é o seguinte: a parte traseira do cérebro humano regula o conhecimento/informações aprendidas e a parte dianteira é responsável pela aplicação prática desse conhecimento. Em uma pessoa neurotípica essas partes se conectam e comunicam-se normalmente, na pessoa com TDAH não. Quem faz a ligação entre as duas partes são os neurotransmissores (dopamina e noradrenalina), e no cérebro do TDAH esses neurotransmissores nem sempre estão no "lugar certo, na hora certa" e nas quantidades adequadas. É como tentar fazer uma ligação telefônica sem sinal: mesmo que os aparelhos celulares funcionem e você saiba decor e salteado o número do seu melhor amigo, você não vai conseguir falar com ele se estiver "sem sinal". Os neurotransmissores seriam esse sinal. No entanto, quando a pessoa com TDAH se sente realmente estimulada e desafiada, a adrenalina gerada pelo estímulo ajuda a colocar esses neurotransmissores no lugar certo e na quantidade certa para fazerem o seu trabalho. 5. Quando pessoas com TDAH são estimuladas, seu cérebro fica com níveis mais altos de noradrenalina. Com níveis adequados de noradrenalina circulando pelo cérebro, a pessoa, enfim, consegue executar consistentemente suas tarefas. É por terem um desequilíbrio químico nos níveis de neurotransmissores que pessoas com TDAH buscam constantemente por novidades, se metem em encrencas, se submetem a situações perigosas e estão propensas ao abuso de substâncias ilícitas (ou lícitas). Diante desses tipos de estímulo, seu cérebro adquire naturalmente os níveis funcionais de noradrenalina: é o instinto de sobrevivência humano buscando compensar um desarranjo orgânico. 6. No entanto, pode ser arriscado, doloroso e inviável proporcionar esses estímulos no dia a dia, por isso existem os medicamentos estimulantes como a Ritalina, Concerta e Venvanse: eles ajudam o cérebro a sintetizar mais desses neurotransmissores, mas isso só acontece durante algumas horas, enquanto os estimulantes ainda estão fazendo efeito no organismo. Eles não servem para curar o transtorno, são apenas uma medida paliativa para que a pessoa com TDAH consiga cumprir as tarefas do dia a dia. 7. Ter TDAH não traz problemas somente na execução de tarefas. Como o sistema límbico do cérebro também é afetado, quem tem o transtorno sente as emoções de maneira mais intensa que os neurotípicos (sejam as boas ou as más). Além da intensidade emocional, pessoas com TDAH convivem diariamente com uma labilidade emocional: na prática, isso quer dizer que elas vão do céu ao inferno num mesmo dia (ou mesmo no intervalo de uma hora!) e não conseguem sair de lá sempre que querem, ficando presas a pensamentos ruins como um vinil riscado em um looping sem fim. Para além da intensidade e da labilidade, as falhas de comunicação entre regiões do cérebro tornam bastante difícil para quem tem TDAH compreender o que está sentindo, o que realmente deseja e o que é apenas uma emoção passageira. E é nesse momento de confusão emocional que a impulsividade de quem tem TDAH pode prejudicar suas vidas de maneiras devastadoras. 8. Sim, além de tudo o que já foi dito, o TDAH está associado à impulsividade, embora nem todos os que tem o transtorno sejam impulsivos. A impulsividade geralmente está mais presente entre os que tem a presença da hiperatividade no quadro. Existem, portanto, 3 tipos de apresentação do transtorno: o tipo combinado, em que há tanto a presença da desatenção quanto da hiperatividade; o tipo predominantemente hiperativo; o tipo predominantemente desatento (TDA). 9. Em geral, TDAH é um transtorno que aparece desde a infância, mas o diagnóstico do tipo desatento costuma ser realizado mais tardiamente, pois suas características são mais sutis às outras pessoas. Ser diagnosticado na fase adulta significa que aqueles que descobrem ter o transtorno provavelmente apresentam comorbidades, como ansiedade ou depressão. Imagina ser taxado pelos outros de preguiçoso, acomodado, desorganizado e acreditar a vida toda que se tratam falhas de caráter quando, na verdade, tratam-se de aspectos sobre os quais você não tem controle? 10. O tratamento do TDAH não tem cura, embora uma boa parte das crianças que apresentam o transtorno durante a infância deixem de apresentar seus sintomas na fase adulta. O melhor tratamento, tanto para as crianças quanto para os adultos, vai depender das necessidades e do contexto de vida de cada indivíduo. Em geral, o tratamento consiste no uso de medicamentos estimulantes, terapia cognitivo-comportamental, exercícios físicos, adequação nutricional e técnicas diversas de organização, planejanento e aprendizado. Mas, acima de tudo, o melhor tratamento para o TDAH é a compreensão e o apoio dos familiares, amigos e cônjuges. *Maior estudo de imagens cerebrais do TDAH já realizado. Ele foi coordenado pela Dra. Martine Hoogman, que realizou, ao lado de mais de 40 cientistas PhDs de diversas partes do mundo, coletas de mapeamentos cerebrais de mais de 3200 pessoas. O estudo foi publicado na renomada revista científica The Lancet Psychiatry.


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